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Verão de 1959. Alguns alunos da primeira turma a ser graduada pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia resolvem esquentar a temperatura teatral baiana: rompem com a direção da escola, recusam a graduação e, liderados pelo professor João Augusto, também dissidente, formam a primeira companhia teatral profissional da Bahia: a Companhia Teatro dos Novos.
Os Novos logo compreenderam que somente poderiam manter suas atividades se investissem na construção de uma sede própria. Imediatamente o grupo partiu para uma campanha popular visando a construção de um teatro que, arquitetonicamente, refletisse o pensamento inovador da companhia. Enquanto isso não se realizava, o grupo trabalhava em vários espaços improvisados. Casarões desocupados prestes a serem demolidos e a Galeria Oxumaré foram usados para seus ensaios, oficinas e reuniões. Os espetáculos eram apresentados em auditórios adaptados em colégios, clubes e praças públicas da capital e do interior.
Naquela época, casas de espetáculos eram escassas. Salvador contava apenas com o Teatro Santo Antônio. O intenso trabalho cultural do Teatro dos Novos levou o Governo do Estado a ceder, a título precário, um espaço no Passeio Público, atrás do Palácio da Aclamação para a construção da sua sede. Assim, em 1964, no dia 31 de julho, depois de uma maratona em busca de financiamentos para aquele arrojado projeto junto aos Governos Estadual e Municipal, empresários e toda a sociedade baiana - muitos bingos e livros de ouro depois - finalmente é inaugurado o Teatro Vila Velha.
O projeto arquitetônico de Sílvio Robato, que transformou um galpão em teatro, adequando-o ao espaço cedido pelo governo do Estado no Passeio Público, era a concretização do sonho daqueles jovens: o primeiro teatro independente da Bahia. Já no primeiro dia de sua abertura oficial, o espaço reuniu artistas, intelectuais, políticos e amigos num coquetel onde discursou o então governador Juracy Magalhães, reconhecendo-o como de utilidade pública, segundo a Lei N. 2346/62.
Dias depois da inauguração, entrava em pauta a exibição do antológico show "Nós, Por Exemplo", que revelou Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé, entre outros.
A primeira peça teatral levada à cena no palco do Vila Velha foi "Eles Não Usam Bleque Tai", montagem de João Augusto da peça de Gianfrancesco Guarnieri e que contou com a participação da escola de samba baiana Juventude do Garcia. O grupo formado pelos atores Carlos Petrovich, Carmen Bittencourt, Echio Reis, Othon Bastos, Sônia Robatto, Tereza Sá e o diretor artístico João Augusto - o principal articulador dos objetivos da companhia - junto com outros artistas convidados, transformam o Teatro Vila Velha no símbolo de resistência cultural de uma época em que era proibido proibir. Atravessaram os anos 60 e 70 provando que ainda existia vida inteligente no país.
A reforma pela qual passou o Teatro Vila Velha finalmente o capacitou fisicamente para abrigar o ousado projeto original dos Novos. A partir de dezembro de 1995, o teatro passou a ser inteiramente reconstruído, restando de pé, do velho prédio, apenas uma parede e meia. Mas do projeto original o teatro conservou intacto e renovado o espírito. A primeira etapa do projeto arquitetônico, de Carl von Hauenschild foi inaugurada um ano depois do início das obras e logo a seguir foi iniciada a segunda etapa. Em maio de 98, foi entregue ao público e aos artistas um teatro moderno, confortável e bem equipado - com sistema de ar condicionado central. A estréia foi com o espetáculo "Um Tal de Dom Quixote", que reunia o Bando de Teatro Olodum e reativava a Cia. Teatro dos Novos.
Nesta nova fase do Teatro Vila Velha - o Novo Vila - outros grupos passaram a residir na casa: a partir de 1998, a Companhia Viladança, em 2001, a Companhia Novos Novos e o Grupo Vilavox e em 2004, A Outra Companhia de Teatro. Ao todo, são mais de 100 pessoas, entre artistas e funcionários, fazendo mantendo viva uma verdadeira usina de cultura que é o Teatro Vila Velha.
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